Rogério Ceni caminha a passos arrastados para a entrevista. Acabou de perder dois quilos no treino da manhã ensolarada no CT de Cotia. Rosto cansado, mas mente espirituosa para zombar de seu próprio aniversário:
- 40 anos não se comemora, se lamenta - diz, com leve sorriso de canto de boca.
Sim. Nesta terça-feira, um dos maiores ídolos da história do São Paulo vai completar 40 anos. Número raro para um jogador de futebol, mas nada surpreendente para quem coleciona recordes. Mais de mil jogos, mais de cem gols, tantos títulos e, mais recentemente, duas lesões que colocaram em risco sua carreira. Marcas que fizeram dobrar seu período de treinamento, que chega a até quatro horas em vez das duas de antigamente.
Tudo para conquistar mais títulos pelo São Paulo, uma das maiores paixões do quarentão. Paixão que teve início pela televisão, em fevereiro de 1987, quando o adolescente de 14 anos, encantado, viu o centroavante Careca empatar o jogo contra o Guarani no último minuto e levar o Tricolor à decisão por pênaltis, para depois conquistar o bicampeonato brasileiro. Aquele jogo e a camisa branca, com as listras no peito, mexeram com o jovem, que mal podia imaginar estar no Morumbi quatro anos depois.
E que ninguém se engane com o andar arrastado e a aparência estafada. Era apenas uma circunstância pós-treino. Rogério continua a todo vapor. Na hora de orientar os companheiros em cada atividade, ao cobrar a diretoria por mais reforços e no tom realista até demais de seu discurso: o São Paulo terá de melhorar muito para ser considerado favorito a qualquer conquista em 2013. Ao menos, o clube sabe que pode contar com o quarentão, um “garoto” dentro de campo.
- Meu espírito de competição ainda tem 18 anos.
Você vai fazer 41 anos jogando ou aposentado?
Acho difícil, mas não tenho definição. A lógica, a maior probabilidade, é de encerrar a carreira até o fim do ano. Vamos ver o que acontece, como a gente vai competir e evoluir. Hoje não estamos num ponto em que possamos nos considerar favoritos a qualquer coisa. Temos de crescer muito, precisamos de um ou outro jogador. Hoje há times à nossa frente.
Acho difícil, mas não tenho definição. A lógica, a maior probabilidade, é de encerrar a carreira até o fim do ano. Vamos ver o que acontece, como a gente vai competir e evoluir. Hoje não estamos num ponto em que possamos nos considerar favoritos a qualquer coisa. Temos de crescer muito, precisamos de um ou outro jogador. Hoje há times à nossa frente.
Qual foi o presente de aniversário que você mais gostou?
Quando fiz três ou quatro anos, eu estava emburrado. Havia ganhado vários presentes, mas estava chateado aquele dia. Aí ganhei uma bola de capotão. Meu pai conta que foi o primeiro sorriso que abri no dia do meu aniversário. Então tinha alguma coisa a ver com meu futuro.
Quando fiz três ou quatro anos, eu estava emburrado. Havia ganhado vários presentes, mas estava chateado aquele dia. Aí ganhei uma bola de capotão. Meu pai conta que foi o primeiro sorriso que abri no dia do meu aniversário. Então tinha alguma coisa a ver com meu futuro.
Hoje o São Paulo se orgulha de ser 6-3-3 (seis títulos brasileiros, três da Libertadores e três Mundiais), mas quando você nasceu era 0-0-0...
E quando eu cheguei aqui não era muito diferente, não, viu (risos). Eram dois títulos brasileiros só. Então me orgulho muito de ter feito parte disso. Não me lembro do título de 77, nem da Copa de 78 eu me lembro. Na década de 80 eu passei a entender mais futebol. Antes só queria saber de jogar bola.
Você acha que pode se tornar uma tendência o atleta de futebol jogar até os 40, ou ainda será raro?
Não vai ser um percentual alto que chegará aos 40, mas com a medicina e a fisiologia evoluindo, vejo atletas de 35 a 38 anos, que hoje já são considerados velhos, ou experientes demais, jogando mais tempo em alto nível. Pode ser que no gol aconteça, mas ainda não é uma coisa natural, habitual.Globo!
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